Patamares
07.05.2025 - 02.06.2025
Exposição Individual
Club Athletico Paulistano - São Paulo, Brazil
Toda construção sacramenta um desejo de futuro. E é através da construção de imagens utópicas que Aline Setton conflui distintas temporalidades, sobrepondo cronologias em uma mesma obra: coexistem sempre o passado e um tempo incógnito.
Igualmente por seus atributos líricos e formais, a pintura de Aline parte da inteireza do desenho arquitetônico para descortinar uma mirada que põe à prova qualquer percepção inequívoca, embaralha os planos e escrutina a previsibilidade que as estruturas concretas poderiam assegurar. Em que pese a coerência racional assentada em cada tela, Setton equilibra seu fazer com uma inegável intuição: incessantemente, o empenho exigido em retirar cada elemento do repouso – conectando linhas ou ornamentos, superfícies ou hiatos – faz com que a artista construa novas ambiências, espaços familiarmente oníricos e metafísicos.
O conjunto de obras reunidas na exposição Patamares parte de um universo repertorial que entretece ecos da arquitetura moderna com a fisionomia característica dos projetos brutalistas. Em um arco temporal que vai dos anos 1940 à década de 60, Aline Setton verteu às telas a herança iconográfica abrigada pelo Club Athletico Paulistano – um conjunto arquitetônico que reúne expoentes do pensamento de vanguarda no Brasil: o Prédio Social concebido por Gregori Warchavchik (1896–1972) e o Ginásio idealizado por Paulo Mendes da Rocha (1928–2021) com João de Gennaro (1928–2013).
Do exercício à razão, da observação à ressignificação, a artista buscou no ecossistema do clube subsídios para erigir um trabalho que calcifica o senso arquitetônico: cada pequeno fragmento visual, individualmente recontextualizado, transmutou-se em um vocabulário plástico que soma fratura, perenidade, afinidade e projeção. Talvez, o grande cânone da obra de Aline Setton seja o rigor que nos instiga a habitar caleidoscópios.
Henrique Menezes